"Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade".
(Frida Kahlo)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O show.

Tudo pronto. Desci do taxí e segui. Cabeça erguida, olhando em linha reta.
Na porta de entrada um painel em neon indicando as atrações da noite. Através de um adjetivo triste, minha trupe estava anunciada.- Bobos da corte?
Ao redor eles olhavam de soslaio.O ar era de superioridade e as risadas tornavam-se cada vez mais ensurdecedoras.Senti um peso sobre o meu corpo e a única coisa que eu pensei é que eu não poderia tropeçar naquele instante- é nessas horas que as gafes sempre acontecem- e como que por extinto, autopiedade, seja lá o que for, baixei a cabeça por um momento e me perguntei: 'Que porra que eu tô fazendo aqui?'
Como artista decadente antes mesmo do estrelato, como em um bar lotado em que ninguém te ouve, como uma jovem prostituta  à perder o cabaço. Como a carne exposta aos belos anfitriões. Meus pés já estavam no primeiro degrau da escada do pequeno palco. Percebi que há muito os meus passos se davam em um grande palco e minha história era um show, um delicioso prato cheio para desocupados e maledicentes. -Não existe obra de arte melhor que a vida....Pulp-me.
Ao meu lado direito o meu guardião, no lado esquerdo o amigo sempre presente. Seus olhos brilhavam de deslumbre e medo.Ali éramos tão frágeis que mal podíamos nos defender.
Romanos pacientemente e especialmente esperando por nós.Sentei na borda do palco e acendi um cigarro. O olhar longe. Traguei tranquilamente, baforadas lentas em cada rosto que eu identificava sobre a névoa. Juntei toda a secreção barata que eu poderia sentir naquela hora e com toda a vontade eu cuspi. Em seguida, levantei lentamente, olhando para a única pessoa que me fazia sorrir. Permancemos parados por algum tempo, até ele lançar a primeira nota, que foi respondida com outra nota e um doce dueto de vozes começou. A nossa arte era muito dona de si para se contida por quem quer que fosse.E então a música se expandiu e atravessou toda a mediocridade. 

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