"Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade".
(Frida Kahlo)

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Nossas cenas de cinema de cada dia.

Hoje antes de sair de casa, foi que de fato eu parei para assistir as cenas do desastre no Haiti. Sabia da gravidade da tragédia, mas não tinha me tomado por tal fato antes, justamente pela infeliz banalidade que a minha profissão cria em torno desse tipo de acontecimento. (Até semana passada o assunto era o deslizamento de terra em Angra dos Reis e a jovem Yumi).
Mas o que realmente prendeu a minha atenção hoje, foi a maneira como a notícia foi abordada. As cenas mostradas não foram apenas de tragédia, sangue, etc . Foram cenas que transpareceram o sofrimento humano. E por causa disso, eu me pus a pensar sobre as várias formas de se transmitir uma notícia, o efeito que ela causa e a preferência do público.
Há teóricos que defendem a idéia de que o jornalismo se pauta no que o povo gosta. Se gostam de violência, da-lhe violência, se gostam de bundas e de futebol, vamos encher eles disso. Confesso que quando eu entrei em contato com essa idéia, ela me tentou muito, pelo fato de que ninguém é obrigado a assistir ou ler o que não quer, e também pela opinião pública bem ou mal surtir efeito no formato dos programas de tv, jornais, etc.
Mas em contrapartida eu me lembrei do poder que a comunicação de massa tem, de imobilizar e alienar as pessoas. E isso ocorre em escalas em monstruosas em Países subdesenvolvidos, ops, em desenvolvimento, como o Brasil, onde o nível de escolaridade ainda é precário. Isso me fez levantar uma velha questão: Será que o povo gosta mesmo dessa mediocridade midiática ou foi induzido a gostar? E se caísse uma benevolência dos céus e enfim a população tivesse acesso à uma educação de verdade e também a uma forma menos uma tacanha de Comunicação; Será que não iriam preferir essa nova maneira?
Quanto ao primeiro questionamento nem vou entrar agora no mérito, por já ser tão batido e irritante e não chegar a lugar algum. Agora quanto ao segundo ... Eu não ganho nada com isso, mas apesar de tudo ainda acredito na inteligência e na sensibilidade humana; Só falta um 'empurrãozinho' .
Então, voltando as tragédias.
Passeando pela net, eu encontrei uma exposição fotográfica do Estadão, com fotos que marcaram a última década. Selecionei algumas que mostram bem esse casamento do jornalismo com o 'humanismo'. Note que nenhuma delas abordam de maneira explícita a violência e o desastre, no estilo 'mais parece cena de cinema ". De uma forma sutíl, as imagens transparecem a realidade e o sofrimento humano, conseguindo assim, captar o que resta da nossa sensibilidade. Se isso fosse percebido por grande parte das pessoas, haveria uma repercussão positiva não cotidiano da sociedade em diversos aspectos, e o papel que cabe ao jornalismo seria finalmente cumprido.




Moça tomando banho após tragédia no Haiti. Foto: Ariana Cubillos



Explosão de gasoduto na Nigéria. Foto: Arkintunde Arkinleye



Soldado ameriacano carregando criança iraquiana. Foto: Damir Sagolj



Prisioneiro iraquiano junto ao filho de quatro anos. Soldado americanos não quiseram separa-los. Foto: Jean-Marc Bouju



Menino palestino abordado por soldados israelenses. Foto: Evelyn Hockeinsten
                                 


Incêndio em barracos na favela do Buraco Quente, Rio de Janeiro. Foto: J. F. Diorio.

3 comentários:

  1. Tava pensando nisso ontem... quando fui fazer a unha no salão e o Datena tava gritando na televisão. Mostraram uma imagem superficial da tragédia abordada e a manicure disse "ah, nem tem sangue. Com sangue que tem emoção."
    Acho que nem se trata mais da notícia abordada e sim da emoção que transmite... é uma espécie de show. Uma pena. Acho mais válido esse tipo de trabalho que falaste aí. Talvez surja uma criticidade mais atuante nos receptores da informação.

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  2. É exatamente isso,notícias apelativo,tendensiosas; Um horrorshow.Mas como eu falei, apesar de tudo eu acredito na sensibilidade e no senso crítico das pessoas,falta apenas elas desenvolverem esses sentidos.Só acho difícil isso ser despertado, pelo fato dos grandes veiculos de comunicação disseminarem justamente o contrário. Mas com uma boa educação e muita força de vontade, quem sabe.

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