"Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade".
(Frida Kahlo)

terça-feira, 9 de março de 2010

Elas gostam de apanhar?

Dia internacional da mulher e como não podia ser diferente, várias matérias originais sobre filhos, violência doméstica e mercado de trabalho. Mas este ano, uma reportagem realmente chamou a minha atenção pelo seu teor (Deve ter sido produzida e editada por algum cavalheiro de boteco).
Ligo a TV no jornal X e vem a chamada: Avanço profissional não diminui as tarefas domésticas das mulheres. Esta conclusão tem como base um estudo realizado pelo IPEA (Instituto de pesquisa econômica aplicada), que mostra que 86,3% das brasileiras com 10 anos ou mais realizam tarefas em casa, enquanto os homens que fazem trabalhos em casa são 45,3%. E que as mulheres gastam em média 24 horas por semana trabalhando em casa, enquanto os homens 9,7 horas.
Até aí, nada de novo. Para rechear a reportagem, fizeram uma enquete com duas senhoras, perguntando a opinião delas em relação aos dados e em seguida colocaram o parecer de uma psicóloga (?). É quando o espetáculo começa.
A primeira mulher entrevistada, responde: ‘É, é ruim, mas fazer o que, né?’. Depois vem o parecer científico, da psicóloga que nunca leu Freud, Maria Luiza Lara: “Necessidades domésticas caem sobre a mulher. Empregada, compras de supermercado, pediatra, dor de barriga... Essas coisas que a criança tem, A MÃE QUE TEM QUE TRATAR”. Terminando com o gran finale da ultima entrevistada: ‘A mulher optou por isso (dupla jornada), agora tem que agüentar!’
Nessa hora eu me perguntei o que é mais nocivo; Essa opinião pública, presa nos grilhões do preconceito e do senso comum ou esse jornalismo medíocre, receita de bolo, que não promove o debate e uma abordagem diferente para um tema tão plural E delicado? Sem falar nesse parecer científico, que estava mais para opinião de batente e que não promoveu esclarecimento e reformulação de pensamento.
Foi triste ver essa abordagem passiva e conformista numa reportagem que tinha tudo para ser boa, nas palavras da cientista social e especialmente nas das próprias mulheres entrevistadas. Esse tipo de pensamento perpetua a idéia da mulher como mártir, e sabe-se que a coisa não deve ser por aí. Não estou levantando a bandeira do feminismo extremo, até por que concepções fechadas não ajudam em nada, apenas penso que respeito e igualdade nos dias de hoje são coisas essenciais para a vida em sociedade, e isso sim deve ser veiculado.
Se de fato esses valores fossem colocados em pratica, as mulheres não precisariam mais de uma data para impor direitos e lembrar de sua luta, e de brinde, não seriam mais premiadas com esses especiais chulos sobre estética, mercado de trabalho e violência doméstica, pois com certeza, ser mulher é muito mais que isso.