"Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade".
(Frida Kahlo)

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Mariana: Sua ruína sentimetal e seu fracasso ortográfico

Mariana perdeu bons anos de sua vida doando-se a algo que não entendia. Não era álgebra e nem literatura existencialista-Embora sua história fosse um prato cheio para teóricos e pesquisadores. Com apenas 13 anos fugiu do conforto de seu lar, deixando suas bonecas com dedos comidos e cabelos destroçados em cima da cama, para dividir uma outra cama com um ser semelhante n'um pulgueiro em uma invasão.

Em pouco tempo ela descobriu várias posições, algumas doenças venéreas e micoses, além do gosto de água enferrujada. Começou a trabalhar fora e conheceu as agruras das moças da noite. E após tantas descobertas, Mariana começou a ver a dureza da falta e a sentir uma amarga angústia de querer ganhar o mundo. Nessas horas, sem entender, não queria beijar ou ter por perto o seu principal amante. "Çerá qui eu não gosto mais deli? I agora?".

Após o questionamento, Mariana descobriu que não era de ninguém, nem das bonecas, nem letras, muito menos dos sentimentos. Queria emoção, desejo. Envolveu-se com o amigo do seu cafetão de baixada, que por sua vez se esvaziou com a mulher do dito cujo traidor. "Issu é pra evitar esvaziar bala nos córneos dele!". Um aborto doloroso, devido ao susto. Seria menino ou menina? Um desenho feito a giz de cera em homenagem ao que não vai mais nascer.

Uma briga violenta. A porta bateu com força, com a mesma voluptuosidade de seus atos impensados. Não se sabe o que aconteceu lá dentro, apenas a orquestra de objetos lançados ao chão, em tacadas infelizes. Separaram-se. Ele a chamou de toda a sorte de palavrões aos amigos nos picos em mesas de bar. Ela fez juz aos nomes e passou a conviver com gente de estirpe duvidosa. Já não tinha mais as bonecas, o amor e muito menos as aulas de álgebra e literatura.

Dois anos e novas posições depois, passou a escrever cartas arrependidas, aos garranchos e com tortuosos desenhos de corações. "Confeço que erei demais e não posso ti obrigar a ainda acredita em mim. Mais quero tentar de novu e prometo não te maguar. Espero que vose consiga esquece o que pasou e fica comigo outra vez".

Ele jogou as mágoas e o orgulho fora e aceitou-a de volta. Vivem em um conjugado que não os pertence. Tomam banho quando a preguiça e a gambiarra com a caixa d'agua do vizinho permite. No início da noite, o mínimo bom senso, defensor do pico de sábado a tarde, a faz levantar e trabalhar em uma suposta repartição, escrevendo sua ortografia torta enquanto ele passa parte do dia imóvel em um velho sofá, apreciando as teias de aranha que se alastram nos cantos da parede e imaginando a forma mais fácil de conquistar o mundo.

5 comentários:

  1. Bom texto com temática sórdida. Eu queria ver tu escrevendo um texto com introdução trivial desenvolvendo num grande arremate filosófico! Isso é muito difícil, tipo a obra do Vinicius de Moraes, começando com uma menina que vem e que passa e termina por causa do amor.

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  2. o dia em que eu tomar dois litros de cachorro engarrafado por dia, quem sabe?

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  3. Firmeza, to esperando então! Eu acompanho esse teu blog e a senhora tem um leitor bem exigente.

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