Elas entendem tudo de arte, filosofia, literatura, engenharia e constituição. Discutem sobre metafísica, existencialismo, estética e marxismo. São interessantíssimas e temperamentais, sem deixar de lado a simplicidade. E quando querem, sabem usar muito bem seus artifícios de sedução. Mas não peçam para elas cozinharem um rosbife ou uma buchada de bode, porque esse é o ponto fraco.
Mulheres brilhantes e que não sabem cozinhar. Será que elas deviam precisar? Será que tantos atributos já não são o suficiente? Pelo menos para elas, o sabor da mistureba de macarrão, calabreza e salada de caixa já está de bom tamanho, quando não, aquele velho disque comida chinesa.
A liberdade e autonomia trouxe essa adaptação culinária, e eu sei que as que fazem parte desse rol – assim como eu, não deixam de ter orgulho, ao lembrarem que durante a juventude, se preocuparam muito mais em ler William Burroughs do que aprender as “funções de mulher” impostas pela família.
Mas tantas conquistas intelectuais parecem insuficientes, quando de supetão aparece um olhar crítico e atônito que lança a cortante indagação: “Tu não sabes cozinhar!!!???”
Sorry. Sei que Van Gogh e tintas amarelas formam uma das combinações mais bonitas da história e que o grito nas margens plácidas do rio Ipiranga é só um quadro, mas prometo aprender. Afinal de contas, mais cedo ou mais tarde vou precisar alimentar os meus. Vai que eles não apreciem Walter Benjamin e uma boa mistureba de macarrão...
"Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade".
(Frida Kahlo)
(Frida Kahlo)
sexta-feira, 23 de julho de 2010
sexta-feira, 16 de julho de 2010
Elas
Quando se encontram, riem até mesmo de coisas que não tem motivo. Seja em volta de uma mesa de bar, lanchonete ou mesmo caminhando pelas ruas, o que não falta é assunto. Um momento único, onde o tempo e o espaço se deslocam da realidade- embora ela sempre esteja em voga nas infinitas conversas. Mas mesmo assim, não se esquecem dos sonhos e seus significados, planos e reflexões sobre tudo o que já passou e o que ainda tem por vir.
Para cada momento e segredo existe uma mais apropriada- mas isso não é distinção, os sentimentos são singulares, como cada uma delas. Sempre há uma ocasião, um assunto ou uma saudade que pede mais uma delas. Assistir um filme água com açúcar, viajar, sair para comprar um presente. Cada uma com a sua sensibilidade. Uma fala de amor com paixão, outra fala com certa descrença, outra surpreende-se por não andar tão descrente nesses últimos tempos, e sente medo disso. Perseguem sucesso na carreira, na vida, nas suas camas. Tudo isso para enfim se aninharem no conforto do seu próprio mundo. A apaixonada vai ficar por aqui e ter uma penca de filhos. A desiludida e com a esperança mais bonita pretende conquistar o mundo. A aturdida com uma enxurrada de doces sentimentos até poderia ter um filho, mas pensa na tortura que é parar de fumar.
E como toda mulher que se preze, brigam. Pela vida e pela amizade, sempre com suas sutilezas (?) Ás vezes não falam nada, o desprezo é o suficiente, outras vezes quebram o pau mesmo. Acham o defeito da outra absolutamente insuportável e decepcionam-se quando veem que seus conselhos não valeram de nada. Prometem nunca mais perder tempo com isso e se perdem, ouvindo pacientemente tudo outra vez.
São amigas sem rédeas, que acima de qualquer estabilidade precisam de emoção. Na beira do rio, no meio fio, na tequila. Na sexta-feira soturna, no domingo de dúvidas. Se for o caso, elas até criam a situação, mas precisam de olhos atentos para apreciar tal ato. No mais, elas retocam a maquiagem com o espelhinho de mão, conversam da falta de dinheiro ao próximo filme do Wood Allen e descobrem que não importa o que aconteça, precisam sempre que der- e que esse der seja sempre- estar perto uma da outra.
Para cada momento e segredo existe uma mais apropriada- mas isso não é distinção, os sentimentos são singulares, como cada uma delas. Sempre há uma ocasião, um assunto ou uma saudade que pede mais uma delas. Assistir um filme água com açúcar, viajar, sair para comprar um presente. Cada uma com a sua sensibilidade. Uma fala de amor com paixão, outra fala com certa descrença, outra surpreende-se por não andar tão descrente nesses últimos tempos, e sente medo disso. Perseguem sucesso na carreira, na vida, nas suas camas. Tudo isso para enfim se aninharem no conforto do seu próprio mundo. A apaixonada vai ficar por aqui e ter uma penca de filhos. A desiludida e com a esperança mais bonita pretende conquistar o mundo. A aturdida com uma enxurrada de doces sentimentos até poderia ter um filho, mas pensa na tortura que é parar de fumar.
E como toda mulher que se preze, brigam. Pela vida e pela amizade, sempre com suas sutilezas (?) Ás vezes não falam nada, o desprezo é o suficiente, outras vezes quebram o pau mesmo. Acham o defeito da outra absolutamente insuportável e decepcionam-se quando veem que seus conselhos não valeram de nada. Prometem nunca mais perder tempo com isso e se perdem, ouvindo pacientemente tudo outra vez.
São amigas sem rédeas, que acima de qualquer estabilidade precisam de emoção. Na beira do rio, no meio fio, na tequila. Na sexta-feira soturna, no domingo de dúvidas. Se for o caso, elas até criam a situação, mas precisam de olhos atentos para apreciar tal ato. No mais, elas retocam a maquiagem com o espelhinho de mão, conversam da falta de dinheiro ao próximo filme do Wood Allen e descobrem que não importa o que aconteça, precisam sempre que der- e que esse der seja sempre- estar perto uma da outra.
quinta-feira, 15 de julho de 2010
Mariana: Sua ruína sentimetal e seu fracasso ortográfico
Mariana perdeu bons anos de sua vida doando-se a algo que não entendia. Não era álgebra e nem literatura existencialista-Embora sua história fosse um prato cheio para teóricos e pesquisadores. Com apenas 13 anos fugiu do conforto de seu lar, deixando suas bonecas com dedos comidos e cabelos destroçados em cima da cama, para dividir uma outra cama com um ser semelhante n'um pulgueiro em uma invasão.
Em pouco tempo ela descobriu várias posições, algumas doenças venéreas e micoses, além do gosto de água enferrujada. Começou a trabalhar fora e conheceu as agruras das moças da noite. E após tantas descobertas, Mariana começou a ver a dureza da falta e a sentir uma amarga angústia de querer ganhar o mundo. Nessas horas, sem entender, não queria beijar ou ter por perto o seu principal amante. "Çerá qui eu não gosto mais deli? I agora?".
Após o questionamento, Mariana descobriu que não era de ninguém, nem das bonecas, nem letras, muito menos dos sentimentos. Queria emoção, desejo. Envolveu-se com o amigo do seu cafetão de baixada, que por sua vez se esvaziou com a mulher do dito cujo traidor. "Issu é pra evitar esvaziar bala nos córneos dele!". Um aborto doloroso, devido ao susto. Seria menino ou menina? Um desenho feito a giz de cera em homenagem ao que não vai mais nascer.
Uma briga violenta. A porta bateu com força, com a mesma voluptuosidade de seus atos impensados. Não se sabe o que aconteceu lá dentro, apenas a orquestra de objetos lançados ao chão, em tacadas infelizes. Separaram-se. Ele a chamou de toda a sorte de palavrões aos amigos nos picos em mesas de bar. Ela fez juz aos nomes e passou a conviver com gente de estirpe duvidosa. Já não tinha mais as bonecas, o amor e muito menos as aulas de álgebra e literatura.
Dois anos e novas posições depois, passou a escrever cartas arrependidas, aos garranchos e com tortuosos desenhos de corações. "Confeço que erei demais e não posso ti obrigar a ainda acredita em mim. Mais quero tentar de novu e prometo não te maguar. Espero que vose consiga esquece o que pasou e fica comigo outra vez".
Ele jogou as mágoas e o orgulho fora e aceitou-a de volta. Vivem em um conjugado que não os pertence. Tomam banho quando a preguiça e a gambiarra com a caixa d'agua do vizinho permite. No início da noite, o mínimo bom senso, defensor do pico de sábado a tarde, a faz levantar e trabalhar em uma suposta repartição, escrevendo sua ortografia torta enquanto ele passa parte do dia imóvel em um velho sofá, apreciando as teias de aranha que se alastram nos cantos da parede e imaginando a forma mais fácil de conquistar o mundo.
Em pouco tempo ela descobriu várias posições, algumas doenças venéreas e micoses, além do gosto de água enferrujada. Começou a trabalhar fora e conheceu as agruras das moças da noite. E após tantas descobertas, Mariana começou a ver a dureza da falta e a sentir uma amarga angústia de querer ganhar o mundo. Nessas horas, sem entender, não queria beijar ou ter por perto o seu principal amante. "Çerá qui eu não gosto mais deli? I agora?".
Após o questionamento, Mariana descobriu que não era de ninguém, nem das bonecas, nem letras, muito menos dos sentimentos. Queria emoção, desejo. Envolveu-se com o amigo do seu cafetão de baixada, que por sua vez se esvaziou com a mulher do dito cujo traidor. "Issu é pra evitar esvaziar bala nos córneos dele!". Um aborto doloroso, devido ao susto. Seria menino ou menina? Um desenho feito a giz de cera em homenagem ao que não vai mais nascer.
Uma briga violenta. A porta bateu com força, com a mesma voluptuosidade de seus atos impensados. Não se sabe o que aconteceu lá dentro, apenas a orquestra de objetos lançados ao chão, em tacadas infelizes. Separaram-se. Ele a chamou de toda a sorte de palavrões aos amigos nos picos em mesas de bar. Ela fez juz aos nomes e passou a conviver com gente de estirpe duvidosa. Já não tinha mais as bonecas, o amor e muito menos as aulas de álgebra e literatura.
Dois anos e novas posições depois, passou a escrever cartas arrependidas, aos garranchos e com tortuosos desenhos de corações. "Confeço que erei demais e não posso ti obrigar a ainda acredita em mim. Mais quero tentar de novu e prometo não te maguar. Espero que vose consiga esquece o que pasou e fica comigo outra vez".
Ele jogou as mágoas e o orgulho fora e aceitou-a de volta. Vivem em um conjugado que não os pertence. Tomam banho quando a preguiça e a gambiarra com a caixa d'agua do vizinho permite. No início da noite, o mínimo bom senso, defensor do pico de sábado a tarde, a faz levantar e trabalhar em uma suposta repartição, escrevendo sua ortografia torta enquanto ele passa parte do dia imóvel em um velho sofá, apreciando as teias de aranha que se alastram nos cantos da parede e imaginando a forma mais fácil de conquistar o mundo.
segunda-feira, 12 de julho de 2010
Sinto o mundo nas costas- e ele pesa. Os nervos de aço não são capazes de conter a distensão.
Não dormi de mal jeito. Na verdade, nem sei como consegui dormir tão bem. Talvez seja porque o sono é o único prazer que não precisamos pagar. Mas a respeito do mundo...Ele pesa muito mais nas costas de quem aposta conquista-lo sem ainda ter sequer uma ficha.
Não dormi de mal jeito. Na verdade, nem sei como consegui dormir tão bem. Talvez seja porque o sono é o único prazer que não precisamos pagar. Mas a respeito do mundo...Ele pesa muito mais nas costas de quem aposta conquista-lo sem ainda ter sequer uma ficha.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Geometricamente estático.
Hoje não importa se eu estou feio ou bonita, nem sequer que dia é hoje. Acordei com dores no corpo, olhos pregados. Minh'alma como se tivesse voltado de uma guerra que ainda nem começou. Não tenho forças para escrever. Garranchos vãos, já despreocupados em entender alguma coisa, desenhando tortuoso retrato do eu atual.
Hoje leventei mecanicamente. Segurando a extensão do meu corpo, que toca, vibra, anuncia surpresas. Joguei-o fora de minhas mãos e imperceptivelmente permaneci no canto da sala.Férias de verão. engarrafamento, dedline, tédio na cidade. E um corpo morto no meu coração.
Hoje me falta coragem para abrir as portas para o sol; E menos ainda de desistir das ruínas que eu construí. Geometricamente estática. Tanto, que já nem sinto mais dor.
Hoje leventei mecanicamente. Segurando a extensão do meu corpo, que toca, vibra, anuncia surpresas. Joguei-o fora de minhas mãos e imperceptivelmente permaneci no canto da sala.Férias de verão. engarrafamento, dedline, tédio na cidade. E um corpo morto no meu coração.
Hoje me falta coragem para abrir as portas para o sol; E menos ainda de desistir das ruínas que eu construí. Geometricamente estática. Tanto, que já nem sinto mais dor.
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