"Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade".
(Frida Kahlo)

domingo, 18 de setembro de 2011

O limite da sinceridade


Imagine se o mundo fosse contaminado por uma epidemia de sinceridade e que durante uma semana as pessoas falassem todas as pequenas verdades indizíveis que lhe viessem a cabeça? Desde coisas bestas do tipo “é, realmente tu tá muito gorda e essa roupa não cai bem” e “amiga, escova melhor os dentes porque tu tá com um bafo mortal” até verdades mais delicadas, como “brother,eu confesso que eu comi a tua namorada ano passado”, “querida sogra, tu és mesmo uma megera” ou mesmo aquela facada no coração com “amor, eu tenho uma amante gostosinha com a metade da tua idade!”.
Quantas famílias desfeitas. Quantas amizades despedaçadas. Quantas relações fragilizadas pela sinceridade!
Mas peraí. Desde pequenininho a gente aprende que é honroso ser honesto, sincero. Que a sinceridade constrói um mundo melhor e que devemos usar esta característica para com as pessoas que amamos. Que sinceridade é sinônimo de confiança e que é melhor que a mentira, ocultação e todas essas coisas. 
É, mas o que esquecem de ensinar é como ser sincero, já que nem todo mundo está preparado pra ouvir uma verdade e nem pra dizer uma verdade sem precisar ferir. 
A sinceridade é ambígua. Dependendo do jeito que a coisa for dita pode descair na indiscrição ou até mesmo no egoísmo. Discussões sobre o limite da sinceridade são muito delicadas. Apontar a dupla face do ato de ser sincero pode parecer uma justificativa plausível para mentir, omitir, etc. Mas atire a primeira pedra os 'poços de sinceridade' que volta e meia omitem alguma opinião pra evitar uma saia justa.
Tanto quem mente quanto quem é verdadeiro conhece o peso e as conseqüências que a falta e o excesso de sinceridade podem trazer. Carregam a verdade oculta sobre a sinceridade dentro de si. Verdade que torna a própria sinceridade contraditória.
Ah, aquelas pequenas verdades que não se contam! Seja para não criar mal estar ou não se constranger. Belo dia eu resolvi quebrar o tabu e testar o limite da sinceridade. Não era nada de espetacular, coisa pequena, mas que exigia certa coragem para ser dita. Foi no tempo de um suspiro. Tudo estava dito. Nem doeu tanto assim, a não ser pelo meu final de semana que foi por água abaixo.
Depois a burrada da sinceridade, me senti uma idiota. Mais tarde constatei: o ato de ser sincero é como uma descarga de tensão. O indivíduo joga o pepino pra cima do outro e espera que ele entenda numa boa e o ovacione pelo ato heróico de ter sido sincero. E depois da coisa dita, ainda mais quando é coisa besta, a gente vê quão desnecessário ter dito aquela verdadinha. Não estou dizendo aqui que eu sou a favor da desonestidade, olha lá. É só que pequenas verdades talvez não necessitem virar uma tragédia grega. Elas podem brotar naturalmente sem parecer ser algo extraordinário.
Quanto as grandes verdades, eu não sei. O ideal mesmo era nem por os pés em uma situação absurda de mentira. Pra tentar se limpar depois é difícil. E a verdade não vem em forma de alivio pra quem diz, como nas pequenas verdades. Dependendo do que for e como for dito, essa grande verdade pode causa muita dor ao outro, se tornando apenas um ato de egoísmo de quem foi sincero.  
Seria ótimo se a sinceridade não fosse ambígua. Evitaria que a gente vivesse envolto em meias verdades e mentiras sinceras. Melhor ainda seria se as pessoas se compreendessem melhor, que não deixassem um ato, um sentimento ou uma observação se tornarem algo maiores do que suas próprias pernas para enfim compartilhar com o outro. Mas já que as coisas não são bem assim, antes que o mundo- e se o mundo um dia- for 'assolado' pela epidemia da sinceridade é bom que as pessoas aprendam a dizer a verdade da melhor maneira possível.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Tocando a alma.


Para ouvir ao som de Três dias
Marcelo Camelo vem à Belém no dia 4 de junho para uma apresentação no Hangar. Apesar de eu admira-lo, principalmente na fase Los Hermanos, não sei se vou ao show. Como disco solo dele, o “Sou”, não fez a minha cabeça, resolvi baixar o novo trabalho, “Toque dela”, pra ver se me convence.

Logo ao ouvir a primeira música, “A noite”, foi como se um baú de sensações se abrisse na minha frente. A sutileza das composições, ricas em detalhes e a voz macia do Camelo cantando palavras de amor, me transportaram para uma viagem no tempo. Mas que tempo é esse, eu não sei.

O que eu senti não foi nostalgia. Nem identificação com o presente. Foi como se eu não fizesse parte de tempo nenhum. Como se eu não coubesse no passado e faltasse no futuro, a La “O homem que não estava lá”.

Marcelo cantando “Dois barcos” no pé do ouvido há cinco anos, transbordava o amor e a pureza que havia em mim. Hoje, ele cantando “Três dias” faz eu me dar conta de uma coisa linda que eu não sei explicar e talvez nem sentir.

E o question mark point inevitável surge na minha cabeça: Será que foi ele que parou no tempo ou eu que mudei demais? Seriam as canções dele capaz de tocar os velhos e os moços de outros carnavais, ou já nasceram como ecos de antigos sentimentos?

Amigos passaram, amores passaram, sonhos se realizaram ou não. O tempo é outro e apesar das canções soarem familiar, são outras também. E mesmo ainda não entendendo o que “Toque dela” provocou em mim, posso dizer que senti uma sensação de alívio ao escutar o disco. Pois me percebi de pé depois de todos os sentimentos e situações que eu vivi embaladas por antigas canções. É como o próprio Camelo diria: “Não me falta o passo, coração...avante!”

Continuo sem saber se eu vou ao show.Talvez não. Acho que vou ficar por aqui vendo ele de longe e desejando coisas boas, como a gente sempre faz com as pessoas que estão nos nossos corações, mas não tão perto assim. 



sexta-feira, 11 de março de 2011

Cineminha

*Para ler ao som de Cinema Olympia, de Gal Costa.



O surgimento dos cineclubes e circuitos alternativos em Belém nos últimos anos é uma benção. Através destas iniciativas a população tem a oportunidade de entrar em contato com produções de difícil acesso e que estão fora do circuito comercial. Como circuitos alternativos que são, eles se sustentam praticamente por conta própria, sem o devido incentivo e suporte dos órgãos competentes. É claro que é bacana e louvável fazer algo independente, mas em certos momentos essa falta de apoio pesa em programações que poderiam ter um melhor aproveitamento. As minhas duas últimas incursões nesses espaços cinematográficos são a prova disso...
Domingo retrasado dei um pulo no Olympia com o meu namorado pra assistir a Mostra do cineasta paulista Carlos Nader- com produções que nunca foram exibidas em Belém e que não fazem parte do acervo nem de respeitadas locadoras daqui. Pois bem. A sessão estava prevista para às 18h30, então tomamos um café e fumamos um cigarro no Bar do Parque, na maior tranquilidade. Eis que quando chega a hora de iniciar a sessão, os funcionários do cinema começam a baixar as grades. O motivo? Eles não iam exibir um filme apenas para quatro pessoas.
Eu não sei se o que me indignou mais foi a falta de respeito dos funcionários com os quatro espectadores, a falta de incentivo da prefeitura em tornar o Cinema um ponto de cultura de grande demanda, ou a falta de interesse da população. A única coisa que sei é que voltei pra casa com essa história na cabeça: Do dia em que fecharam a porta do último cinema de rua de Belém na minha cara.
Uma semana depois resolvi assistir no Líbero Luxardo o filme “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” (Michael Gondry). A exibição fazia parte da programação dos Melhores Filmes da década, promovida pela Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA). Chego uns cinco minutos antes do início da sessão e eis que me surpreendo com uma corrente e um cadeado na porta de entrada: A sala estava lotada. Com capacidade para 85 pessoas, o lugar não tinha espaço para todos que queriam assistir ao filme.
A situação foi no mínimo irônica. Na primeira semana fecham a porta na minha cara por falta de espectador e na segunda semana por excesso. Sou eu que chego sempre na hora errada ou é a falta de políticas públicas que fazem a gente se sentir como um pato? Com um punhado de pessoas dispostas a fomentar a sétima arte por aqui, só o que eu posso desejar é que o básico, que é a estrutura seja viabilizada para essas iniciativas. Como seria bacana poder pegar todas aquelas pessoas que estavam de fora do Libero Luxardo e as que estavam dentro também e colocá-las para assistir o filme no Olympia. Assim o Brilho deste patrimônio seria eterno e arrebataria a experiência de vê-lo fechado em plena tarde de domingo.

Os melhores da década.
Como não pude acompanhar a mostra da ACCPA e em homenagem a iniciativa, resolvi criar a minha própria lista dos melhores filmes dos anos 2000. Assim que der eu vou locar todos e assistir numa sessão extensiva de pipocas e beijinhos. Não há circuito mais clássico que este. Rs. 

1-     Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (Michael Gondry. 2004, EUA) 


 
Joel (Jim Carrey) e Clementine (Kate Winslet) formavam um casal que durante anos tentaram fazer com que o relacionamento entre ambos desse certo. Desiludida com o fracasso, Clementine decide esquecer Joel para sempre e, para tanto, aceita se submeter a um tratamento experimental, que retira de sua memória os momentos vividos com ele. Após saber de sua atitude Joel entra em depressão, frustrado por ainda estar apaixonado por alguém que quer esquecê-lo. Decidido a superar a questão, Joel também se submete ao tratamento experimental. Porém ele acaba desistindo de tentar esquecê-la e começa a encaixar Clementine em momentos de sua memória os quais ela não participa.



2-     Encontros e desencontros (Sofia Coppola. 2003. EUA/ Japão)


Bob Harris (Bill Murray) e Charlotte (Scarlett Johanson) são dois americanos em Tóquio. Ele é um decadente astro de cinema que está na cidade para filmar um comercial de uísque. Ela acompanha o marido, um fotógrafo viciado em trabalho e distante da relação. Bob e Charlotte estão no mesmo hotel, e não se conhecem. Mas a solidão e a cidade desconhecida vão aproximá-los. Juntos, os dois vão viver uma história singular, criando uma cumplicidade raramente vista e uma nova forma de ver a vida.


3-     Elizabethtown (Cameron Crowe. 2005. EUA)


Drew Bailor (Orlando Bloom) é um homem à beira do suicídio que, depois de saber que seu pai morreu, decide voltar à cidadezinha onde nasceu e cresceu. No caminho ele conhece Clear (Kirsten Dunst), uma comissária de bordo que vai ajudá-lo a superar as provações que virão.

4- O Terminal (Steven Spilberg. 2004. Eua) 



Tom Hanks é Viktor Navorski, um homem normal que viaja de sua terra natal, a fictícia Krakozhia, para os Estados Unidos. Ao chegar lá, as autoridades americanas se encontram com um grande problema em mãos: enquanto voava, Krakozhia sofreu um golpe de Estado e teve o seu poder tomado, perdendo assim o seu reconhecimento de nação por parte dos EUA. Viktor então é, sem culpa alguma, prejudicado por um grande problema diplomático: não pode voltar ao seu país de origem, já que ele teoricamente não existe mais e está em guerra, e não pode pisar fora do aeroporto pois não tem visto para entrar nos EUA. Sem nada a fazer, ele acaba por tocar a vida para a frente ali mesmo, no terminal do aeroporto.

5- Adeus, Lenin! (Wolfgang Becker. 2003. Alemanha) 



A mãe de Alexander, fiel devota do socialismo na antiga Alemanha Oriental, tem um ataque cardíaco ao ver o filho em uma passeata contra o sistema vigente. Quando ela acorda do coma, após a queda do muro de Berlim, o médico aconselha a Alexander que ela evite emoções fortes, pois outro ataque tão cedo seria fatal. Com o peso na consciência pelo estado atual de sua mãe, Alex faz de tudo para que ela continue vivendo em uma ilusória Alemanha socialista, mudando embalagens de produtos industrializados e até mesmo inventando documentários televisivos para preencher as brechas do dia-a-dia do recente capitalismo no país.


6- Minha vida sem mim (Isabel Coixet. 2003) 


Ann é uma jovem mãe de duas garotinhas, com um marido que passa mais tempo procurando emprego do que trabalhando, uma mãe com um coração partido que a transformou numa mulher amargurada e um pai que está há dez anos na cadeia. Enquanto qualquer garota de sua idade está se divertindo, Ann trabalha todas as noites na limpeza de uma universidade onde nunca terá condições de estudar de dia. Depois de passar mal um dia, ela descobre que tem uma doença grave. Sem contar a ninguém, começa a fazer uma lista de tudo quanto sempre quis fazer mas nunca teve tempo ou oportunidade. E começa uma trajetória em busca de todos os seus sonhos, desejos e fantasias. Mas sempre imaginando como será a vida sem ela.




7- Peixe Grande (Tim Burton. 2003. Eua) 



Ed Bloom (Albert Finney) é um grande contador de histórias. Quando jovem Ed saiu de sua pequena cidade-natal, no Alabama, para realizar uma volta ao mundo. A diversão predileta de Ed, já velho, é contar sobre as aventuras que viveu neste período, mesclando realidade com fantasia. As histórias fascinam todos que as ouvem, com exceção de Will (Billy Crudup), filho de Ed. Até que Sandra (Jessica Lange), mãe de Will, tenta aproximar pai e filho, o que faz com que Ed enfim tenha que separar a ficção da realidade de suas histórias.


8-     A pequena Miss Sunshine (Jonathan Dayton, Valerie Faris. 2006. Eua) 



Parta numa viagem hilária com os Hoover, uma das famílias mais adoravelmente desajustadas da história da comédia. Richard, o pai, tenta desesperadamente vender seu programa motivacional para atingir o sucesso… Sem sucesso. Enquanto isso, Sheryl, a mãe a favor da honestidade plena, tenta entrosar sua excêntrica família, incluindo seu deprimido irmão, que acaba de sair do hospital após ser abandonado por seu namorado. Temos ainda a ala jovem: Olive, com sete anos de idade e aspirante a rainha de concurso de beleza, e Dwayne, um adolescente que lê Nietzsche e fez um voto de silêncio. Para completar a família, temos o desbocado avô cujo comportamento maluco fez com que recentemente fosse expulso do asilo de idosos. Quando Olive é convidada a participar do concurso de beleza “Little Miss Sunshine” na distante Califórnia, toda a família parte em uma velha Kombi para torcer por ela… E o resultado desse apoio é simplesmente hilário.



9-     O fabuloso destino de Amelie Poulain (Jean-Pierre Jeunet. 2001. França)



Após deixar a vida de subúrbio que levava com a família, a inocente Amélie (Audrey Tautou) muda-se  para o bairro parisiense de Montmartre, onde começa a trabalhar como garçonete. Certo dia encontra uma caixa escondida no banheiro de sua casa e, pensando que pertencesse ao antigo morador, decide procurá-lo assim que encontra Dominique (Maurice Bénichou). Ao ver que ele chora de alegria ao reaver o seu objeto, a moça fica impressionada e adquire uma nova visão do mundo. Então, a partir de pequenos gestos, ela passa a ajudar as pessoas que a rodeiam, vendo nisto um novo sentido para sua existência.        ­ 

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Morangos, sempre.


Quinze anos sem Caio Fernando Abreu. Eu digo fisicamente.
Quando eu o descobri, há seis anos, ele já não estava mais presente em forma física,  mas invadiu a minha vida. E foi uma invasão abusada. De um fôlego só devorei aquele Morango Mofado que roubei da estante do meu pai. Me encontrei e me perdi.
Eram meados dos anos 2000 e eu era uma garota de 16 anos com uma vontade enorme de agarrar o mundo. E aquelas palavras eloqüentes, derramadas com cuidado no papel eram muito parecidas com o que eu sentia. Ali eu podia partilhar aquela coisa mansa, cortante e entalada na garganta.
Passado um tempo e com uma outra visão de mundo e de vida, resolvi tirar a prova dos nove. Li uma, duas, três, infinitas vezes e percebi que definitivamente as palavras de Caio são reflexos dos meus sentimentos mais íntimos. Sentimentos que tomaram novas formas, mas continuam singulares na essência.
E mais uma vez ele invade a minha vida sem aviso prévio. O seu décimo quinto aniversário póstumo me fez recordar vários momentos. Fui à um Encontro Literário em que rolou leitura dramática e interpretação de vários contos do Caio, além de uma palestra muito bacana do Ismael Machado. Lá pelas tantas, algumas pessoas da platéia começaram a contar como conheceram o gaúcho e as suas relações pessoais com a obra dele. Naquele momento a minha mente foi pra bem longe. Comecei a recordar sensações, amigos aos quais eu apresentei à obra de Caio , os livros que nunca voltaram pra minha prateleira e todas as vezes em que após ler um conto dele eu não me sentia sozinha nessa.
Mas entre todas essas lembranças, teve uma que emergiu com mais força. Era madrugada e a cena não podia ser mais peculiar. Meia luz, cigarros, espelhos, e eu lendo pausadamente “Pela passagem de uma grande dor” para uma pessoa muito especial. Aquele diálogo silencioso, que aos poucos desvendava a intimidade de cada personagem deu um tom mágico para aquele momento. As palavras transcenderam o papel,  tocando a realidade. E ali éramos todos os climas e personagens de Caio, personificados em amantes.
Acho que essa lembrança, além de me mostrar que passado seis anos, hoje eu sei qual o gosto de abraçar o mundo e a vida,  é a melhor homenagem que eu posso fazer ao Caio agora. Obrigada, Caio, por dá  poesia a minha vida.  



sábado, 29 de janeiro de 2011

Avante.

Existem momentos na vida em que a melhor solução é seguir o ritmo da maré. Pra que relutar quando ela pode te dá o melhor caminho?
Quando a gente se propõe a viver o que não se pode apreender temos belos riscos de errar e aprender, ou acertar e preencher o rosto de sorrisos.Quando não se cobra do outro, ou mesmo da gente, conseguimos reconhecer a humanidade -e porque não dizer- a beleza dos nossos erros e defeitos.
Assim a gente delicadamente se distrai e a vida acontece...
Não há de novo nessas palavras, mas valem pra dizer que não há nada de ultrapassado no meu coração.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Sentia algo completamente íntimo, solitário e doído. Algo que pelo seu teor, escapou de minhas mãos algumas vezes, chegando ao saber de outros. E por mais que eu não deixasse mais escapar- e mesmo que nunca tivesse deixado, era algo tão íntimo que transparecia em meu olhar.
As vezes em que me olhei no espelho nesses momentos reveladores, não consegui encontrar a clareza. Talvez porque a gente nunca se conheça tanto quanto acha. Talvez porque a profundeza dos nossos sentimentos seja tão nossa que nós mesmos desconhecemos.
Diante do espelho, o que vi em meus olhos não representavam por um segundo aquele sentimento íntimo-e por isso tão doloroso- que carregara em meu peito; Pois de tão íntimo meus olhos congelaram. E por mais que qualquer um entendesse o que se passava neste olhar, nunca conseguiria apreende-lo.