"Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade".
(Frida Kahlo)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Os morangos de Caio.


Conheci Caio Fernando Abreu numa tarde quente dos meus 16 anos, no acervo de livros do meu pai. E o nosso encontro não podia ser mais peculiar: Um livro roubado, com um gosto amargo, intitulado Morangos Mofados.

Dessa analogia com a música Stramberry fields forever, surgiam contos que devassavam a inquietude, impotência e loucura (no bom sentido da palavra), de uma geração que é atemporal por sonhar e sentir a essência das coisas.

Quanto à essa loucura no bom sentido, é aquela que quem sofre dela preferia não sofrer, que é a de enxergar o mundo além dos limites permitidos, e perceber que as palavras alcançam todas as dimensões, tanto,que é melhor ficar calado. E essa loucura no nosso mundo é inadmissível, imperdoável.

Mas além desse gosto de morango mofado do -E agora?, da geração perdida, o mais forte no contos do Caio, é a regeneração. O poder de construir e desconstruir que cada pessoa carrega em si. Mesmo que as coisas não tenham saído com se esperava, e o mundo fugido às espectativas, a recusa das personagens em enlouquecer (agora no pior sentido), ou morrer no fim, é o que torna tudo tão humano e tão próximo do leitor.

Para Caio as estórias não ficavam suspensas no ar, pelo contrário, ela se consumavam nos intervalos,que é onde a vida acontece sem culpa e sem pressa, fazendo desses contos mais que simples contos, e sim uma biografia universal.


Caio Fernando Loureiro de Abreu, nasceu em 12 de setembro de 1948 em Santiago, Porto Alegre. Era jornalista e escritor, tendo cursado também os cursos de artes cênicas e letras.

Na década de 70 exilou-se na Europa em decorrência do regime militar, morando em Estolcomo, Londres e Paris, e voltando ao Brasil em 1981.

Portador de HIV, veio à falecer por complicações causadas pela mesma em 25 de fevereiro de 1996 em Porto Alegre, deixando obras importantissímas para a nossa literatura, dentre as principais:


- O inventário do ir-remediável. 1970. (Contos)/(Prêmio União brasileira de escritores)


-O ovo apunhalado. 1975. (Contos)


-Morangos mofados. 1982. (Contos)


-Os dragões não conhecem o paraíso. 1988. (Contos)/(Prêmio Jabutí)


-A maldição do Vale negro. 1988. (Peça)/(Prêmio Molière de Air France para dramaturgia nacional)


-Onde andará Dulce Veiga?, 1990. (Prêmio APCA- Associação paulista de críticos de arte)

7 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. ah, eu li morangos mofados ano retrasado. adoro esse livro. adoro a forma suja de escrever e de se comportar diante dos fatos narrados.
    =)

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  3. vou adicionar teu blog nos meus links lá no meu blog. add o meu tbm. bjs!

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  4. Fuçando blog's encontrei o seu...interessante...mas pq o abandono?
    pq o nome dogtelevision?
    não tenho blog mas perco muito tempo lendo o dos outros...hehehe
    grande abraço prima...

    Lamartine Garcia

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  5. Foi por causa da crise dos 20.
    dogtelevision pq é pra distrair, mas com coisa útil.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Li, na verdade escutei, pela primeira vez um conto de Caio Fernando Abreu sendo lido na penumbra de um lugar incomum, escondido, silencioso e pintado. Ao meu lado havia as mesmas imagens que via ao outro lado. Além disso, a minha frente tinha um vidro transparecendo a visão para outro espaço que por ser assim, causa vergonha e timidez para uns e sei lá o quê para outros. A música ao fundo esquecia suas harmonias para deixar as palavras ecoarem em minha mente junto a leves baforadas de cigarro e outras coisas...

    Parabéns.

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