Conheci Caio Fernando Abreu numa tarde quente dos meus 16 anos, no acervo de livros do meu pai. E o nosso encontro não podia ser mais peculiar: Um livro roubado, com um gosto amargo, intitulado Morangos Mofados.
Dessa analogia com a música Stramberry fields forever, surgiam contos que devassavam a inquietude, impotência e loucura (no bom sentido da palavra), de uma geração que é atemporal por sonhar e sentir a essência das coisas.
Quanto à essa loucura no bom sentido, é aquela que quem sofre dela preferia não sofrer, que é a de enxergar o mundo além dos limites permitidos, e perceber que as palavras alcançam todas as dimensões, tanto,que é melhor ficar calado. E essa loucura no nosso mundo é inadmissível, imperdoável.
Mas além desse gosto de morango mofado do -E agora?, da geração perdida, o mais forte no contos do Caio, é a regeneração. O poder de construir e desconstruir que cada pessoa carrega em si. Mesmo que as coisas não tenham saído com se esperava, e o mundo fugido às espectativas, a recusa das personagens em enlouquecer (agora no pior sentido), ou morrer no fim, é o que torna tudo tão humano e tão próximo do leitor.
Para Caio as estórias não ficavam suspensas no ar, pelo contrário, ela se consumavam nos intervalos,que é onde a vida acontece sem culpa e sem pressa, fazendo desses contos mais que simples contos, e sim uma biografia universal.
Caio Fernando Loureiro de Abreu, nasceu em 12 de setembro de 1948 em Santiago, Porto Alegre. Era jornalista e escritor, tendo cursado também os cursos de artes cênicas e letras.
Na década de 70 exilou-se na Europa em decorrência do regime militar, morando em Estolcomo, Londres e Paris, e voltando ao Brasil em 1981.
Portador de HIV, veio à falecer por complicações causadas pela mesma em 25 de fevereiro de 1996 em Porto Alegre, deixando obras importantissímas para a nossa literatura, dentre as principais:
- O inventário do ir-remediável. 1970. (Contos)/(Prêmio União brasileira de escritores)
-O ovo apunhalado. 1975. (Contos)
-Morangos mofados. 1982. (Contos)
-Os dragões não conhecem o paraíso. 1988. (Contos)/(Prêmio Jabutí)
-A maldição do Vale negro. 1988. (Peça)/(Prêmio Molière de Air France para dramaturgia nacional)
-Onde andará Dulce Veiga?, 1990. (Prêmio APCA- Associação paulista de críticos de arte)