"Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade".
(Frida Kahlo)

sábado, 25 de julho de 2009

Como domesticar uma borboleta?


Ela chegou de maneira inesperada, precisando dos meus cuidados. Trazia um mistério na sua cor escura. Preto, azul, marrom, branco, amarelo e vermelho. Aparentemente frágil, suas asas mais pareciam pétalas de rosas, o que aumentava a minha admiração, pois ela tinha uma força e um extremo poder de sedução intercalado à sutileza e a discrição. E apesar de algumas quedas, talvez uma asa quebrada, sempre ensaiava o voo monumental.

Pousou em minhas mãos, um lugar seguro para repousar. De início eu achei surpreendente ter em minhas mãos uma borboleta, inalcançável, daquelas que a gente só tem o privilégio de ver em voos kamikazes. Não é todo o dia que se tem uma borboleta nas mãos. Passado a surpresa, fui atrás de um recipiente onde pudesse colocá-la, afim de que não fugisse. Cheguei até a cogitar que ela não demoraria tanto para morrer, então imortalizaria sua beleza fixando-a numa futura tela, junto com uma flor amarela que eu deixei secando atrás do meu caderno. Isso tudo na tentativa de capturar um momento. A flor, a borboleta, como uma foto, das coisas maravilhosas que acontecem raramente nas nossas vidas.

Logo vi que tudo aquilo era uma loucura. Como eu pude querer domesticar uma borboleta?Eu, tão indomesticável quanto ela! A sua beleza era justamente o mistério e a liberdade do golpe de suas asas. A verdade é que eu fiquei tão feliz por ter aquele pequeno ser ao meu lado, que a minha ânsia de te-lo por perto me fez esquecer que ele estava ali porque queria, porque se sentia seguro. E isso bastava.

Vendo as coisas dessa maneira, pude perceber também as coisas boas que eu tinha pra oferecer, tanto, que o ser mais amável que eu já vi, tinha se aconchegado em mim. E também entendi a importância de viver de verdade e aproveitar todos os momentos que se tem. Pois a felicidade não se captura em fotos ou telas; é só a lembrança do que se espera que tenha sido bem aproveitado.

Ela me fazia muito bem, e provavelmente continuaria fazendo, mesmo que não estivesse mais sobre as minhas mãos. Estávamos ali, livres pra ficarmos juntas e sermos nós mesmas, o tempo que fosse. Assim sendo, esqueci o assunto e o tempo passou como de costume, de maneira que nem percebemos. Continuamos juntas, indomesticáveis, voando sobre universos inexploráveis e sem previsão para o fim dessa viagem.