"Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade".
(Frida Kahlo)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

O trovador solitário


O nome dele era Renato. Signo de áries, formado em jornalismo, mas dava aula de inglês. Tocava baixo e fazia as letras. Áh, e também carregava uma duo vox gigante escada acima todos os fins de semana, dias de ensaio.

Era fim dos anos 70. A turma se reunia e ficava a tarde inteira tentando acertar alguma música do pistols. Não tinha muita coisa pra se fazer naquela cidade, então nas noites em que eles davam suas caras, valia qualquer coisa. Da pinga ao loló, sexo no carro, encontros na Colina.As vezes uma noite no xadrez, só pra não perder o costume.

Até que eles montaram uma espécie de coletivo não combinado, onde cada um tinha um tipo de função.Confecção de botons, cartazes, etc. As fitas e lp's eram quase comunitárias. Passavam de mão em mão, já que nada chegava lá.Uma resistencia ao tédio. Um ar londrino pairando sob o distrito federal.

Música nova. Química! ''Que bosta de musica escrota Renato!'',''Que isso cara, é legal pra caralho!'' Discussão e uma suposta baquetada na cabeça ( era só o primeiro dos muitos objetos que jogariam na sua cabeça).''Tô fora! Agora sou o Trovador solitário...''

Renato começou a escrever letras sobre faroestes, acompanhadas de violão. Falando do seu mundo pra quem quizesse ouvir e quem não quizesse também, não importava. Talvez a solidão lhe caísse bem...

Andando pelo meio fio, ao som de ''she lost control'', ele pensava o quanto o mundo era cruel. E em algum desses dias descolados do tempo, aquele garoto conseguiu ir mais além. Montou uma nova banda com outros amigos e o que ele dizia passou a produzir eco e arrastar uma legião de pessoas para ouvir.

E apesar das controvérsias, e do tempo que passou, ele conseguiu transpor muito bem aquilo que vinha de fora e de dentro também. Antropofagia? Geração coca-cola. As pessoas não entendiam onde ele queria chegar. As vezes tão pesado, outras vezes tão leve. ''Isso não é rock! E essa falta de técnica musical?''; ''Rock não se aprende na escola, e o que pode ser mais pesado do que falar de amor?'', Difícil, ele dizia...
Talvez as pessoas esperassem demais de alguem que dava o máximo de si.

Aquele cara meio esquisito e neurótico, que conhecia a biografia dos maiores astros do rock e do cinema, que tentou ser feliz um dia de cada vez, por mais que as coisas fossem um tanto difíceis,e que virou uma espécie de messias de uma geração,na verdade ainda era aquele mesmo garoto que queria fazer barulho e se divertir.E dava pra ver nos olhos deles, nos momentos em que se lembrava daquela época tão distante,que ele nunca tinha sido tão feliz. E chegada a hora ele se foi.Talvez esteja a caminhar em algum lugar nesse tempo que parou. O eterno trovador solitário.



Feliz aniversário. 27/03